sábado, 7 de abril de 2007

O espectáculo devora à razom



Levo um tempo sem ver a TV, e talvez seja por isso, que agora cada vez que acendo a caixa que atonta, me escandalizo polo que vejo. Este é um ejemplo do tipo de contidos televisivos (que nom só anúncios estrictamente ditos, posto que hoje tudo é um anúncio) que me inducem essa indignaçom.

Na época de absoluto desenvolvimento do espectáculo, a contradicçom entra dentro das regras da lógica. Neste anúncio se está a vender um produto cuestionando o feito de que ao comprar esse produto vaias ti a poseer essa mercadoria, e nom ao revés: que essa mercadoria te posúa a ti. O enunciado tem um profundo contido anticonsumista, mentres que ao mesmo tempo, e sem aparente contradicçom, a mensagem que se transmite claramente é: CONSUME, compra este carro. É como saber que estás em Matrix e seguir em Matrix, facendo dessa certeza "algo bonito no que pensar", umha enteléquia com a que adornar a mais borreguil e banal conceiçom da estética. Isto supom umha desconexom entre raçom e acçom, supom a superaçom absoluta da ética, supom um ataque semiótico na raiz do qual remata o individuo e a possibilidadede de emancipaçom. Supom a ridiculizaçom da raçom, da ética, e da súa irmá colectiva, a política. Apréciam-se as palavras de Júlio Cortázar tam só coma algo belo, "algo filosófico" - como se dizia nalgúm foro - , umha chapa mais que ponher à nossa baleira personalidade (que podemos adquirir polo preço de..., pagando comodamente a praços). Um distintivo mais da nosa personalidade configurada polas mercadorias das que fazemos ostentaçom pública.

Como di Santiago Alba Rico, o capitalismo, que sobreviveu a revoluçons e crises, sobreviveu sobretudo ao conhecemento, à publicidade dos seus crimes. Do mesmo jeito, o consumo sobrevivirá ao conhecemento de todo o malo que tem esse modelo de vida, já nom só para as trabalhadoras ou o ecosistema, senom para @ própri@ consumidor/a.

A propaganda nazi ao lado de isto, um chiste. Que eu saiba, os nazis nunca conseguirom integrar a contradiçom dentro da lógica. Deshumanizarom a todo um colectivo (os judeus), pero tiverom que lanzar umha enorme campanha para deshumanizalos para depois assassina-los. A propaganda nazi pretendia justificar racionalmente (e erradamente) algo. Este tipo de propaganda nom apela á justificaçom lógica de algo, nem pretende fazer malabares com a raçom para artelhar um sistema coerente; simplesmente crea símbolo, fetiche, num inteligente processo de revalorizaçom do capital. Nom é umha defensa racional da necessidade do consumo dum produto. É a legitimaçom estética da contradicçom.

Este é um signo mais da dificuldade que atopa o indivíduo para discernir entre realidade e irrealidade, e um signo mais de que vivimos num espectáculo totalmente desvinculado da realidade, e toda umha demostraçom do poder que esse espactáculo exerce sobre as nossas vidas. É umha descreditaçom talhante de toda possibilidade de defender racionalmente um discurso anticonsumista. E nom é umha desacreditaçom racional (sabem que nesse eido tenhem a batalha perdida, que nom podem justificar o injustificável), senom umha desacreditaçom emocional. Eu nunca crim, iluso de mim, que o poder do espectáculo chegasse até esse ponto de control.

Pero nom é só um signo máis. É um passo cualitativo, um ataque por parte do espectáculo à raçom. Á possibilidade de dissidência, dum discurso crítico com o modelo consumista de existência, à coerência entre raçom, emoçom e acçom... Depois disto, nom é que nom queiramos parar de consumir. É que nom podemos.

Roubam-nos até as palavras. Coma indivíduo racional, sinto-me profundamente ferido por este ataque...

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A ria e nosa e non de REGANOSA